Monday, February 13, 2017

Escola Industrial e Comercial 1º Maio (antiga Escola Técnica de Quelimane) Quelimane, Zambézia, Moçambique Equipamentos e infraestruturas No início dos anos 50, com a reforma do ensino técnico-profissional, em 1947, é iniciada em Moçambique uma forte procura deste grau de ensino que conduz à urgência da construção de novos edifícios destinados ao seu acolhimento. São então criadas a “Escola Industrial e Comercial da Beira” (1956) – projecto do Gabinete de Urbanização do Ultramar – e as “Escolas Técnicas” de Nampula (1959), Quelimane (1960) e Inhambane (1960), projectadas no quadro do programa de Fernando Mesquita (1916, Vila Real-1990s, Maputo), no contexto dos Serviços de Obras Públicas de Moçambique (ver entrada “Escola Técnica Elementar de Lourenço Marques”). Se nas escolas primárias do programa Mesquitano, a sala de aula era considerada o elemento base da evolução tipológica, as escolas técnicas desenvolveram-se a partir do conjunto de salas de aula a que chamamos pavilhão. Estes, integrando as diferentes necessidades programáticas, distribuem-se como núcleos funcionais autónomos, ao longo da galeria de circulação principal que os articula perpendicularmente. As três escolas técnicas construídas apresentam a mais clara organização do programa escolar de Fernando Mesquita. Todas elas, atravessando praticamente a totalidade do lote onde se inserem e com o rigor da orientação Norte-Sul, afluem com a sua galeria coberta até à via pública através de uma entrada desenhada com cuidada integração e continuidade urbana. Para isso a galeria alcança o comprimento que para tal tiver de adquirir e a adaptação do seu remate final à direcção da rua será uma particularidade formal que estará quase sempre presente. Ao contrário das escolas primárias, a galeria principal apresenta-se totalmente livre de obstáculos, assumindo na sua plenitude a sua função distribuidora e uma continuidade visual absoluta. Ao longo dela distribui-se criteriosamente o programa, em pavilhões perpendicularmente autónomos, continuadamente ligados a ela por galerias cobertas de circulação. Este sistema é resultado de duas questões de importância primordial. Por um lado, constituindo um meio de protecção seguro contra os efeitos da radiação solar, dos ventos e da chuva, é o resultado directo de uma concepção arquitectónica que tem como principal princípio responder de modo eficiente aos desafios colocados a nível do desempenho climático. Por outro lado, permite simultaneamente, com uma racionalidade e funcionalidade rigorosas, a economia dos percursos. À galeria de circulação principal conectam-se perpendicularmente três pavilhões de cada lado: do lado Nascente, dois pavilhões de ensino em classe e um pavilhão que integra a Mocidade Portuguesa e o ginásio; do lado Poente, dois pavilhões destinados ao ensino experimental e um pavilhão que inclui todo o sector administrativo. A encabeçar a galeria, no topo Norte, estão o canto coral e a cantina da escola. A construção em piso único é mantida em todo o programa à excepção dos pavilhões destinados às salas de aula de ensino em classe que, por necessidades de dimensionamento, atingem os dois ou três pisos (dois no caso da Escola Técnica de Quelimane). Estes corpos são constituídos por seis salas de aula e instalações sanitárias para ambos os sexos junto aos núcleos de acesso vertical que se encontram sempre na extremidade dos pavilhões. Em algumas situações apresentam também gabinetes para o contínuo e para armazenamento de material. De um só piso e de dimensões mais generosas, os pavilhões de ensino experimental, por vezes intitulados de laboratórios ou oficinas, estavam destinados aos trabalhos manuais, ao desenho, lavores ou outras actividades. Com a volatilidade que marcava o ensino e o programa a que cada escola se destinava, estes pavilhões foram expressamente projectados com vista a satisfazerem toda a possível variedade de utilizações e frequências que o futuro delas pudesse exigir, tendo sido dimensionadas para o tipo de apetrechamento que exigisse mais espaço. Variando entre as três e as quatro salas por pavilhão, as escolas analisadas possuem entre um a três blocos destinados a esta função, sendo o conjunto formado por duas unidades de três salas, a situação mais comum, como é o caso da Escola Técnica de Quelimane. Nas Escolas Técnicas – com a excepção da de Lourenço Marques – e nos projectos dos Liceus, o pavilhão destinado ao sector administrativo apresenta proporções significativamente menores do que a maioria dos pavilhões destinados ao restante programa. Inclui uma secretaria com balcão de atendimento ao público virado directamente para a galeria de circulação, um arquivo, um gabinete médico com as respectivas instalações sanitárias, um gabinete para o director, outro para o subdirector e uma sala de professores. Em todo o programa Mesquitano, este é sempre o único edifício em que a distribuição funcional não apresenta como princípio o enquadramento dos seus compartimentos entre fachadas opostas, distribuídos ao longo de uma galeria de circulação exterior coberta. Pelo contrário, a distribuição das várias funções administrativas organiza-se, nos pavilhões administrativos, em torno de um corredor de circulação interno. Terá sido um caso em que os requisitos de acessibilidade restrita ao pessoal docente se terão sobreposto às contingências da exposição solar e às necessidades de ventilação natural, ou talvez tenha constituído uma função que, perante as condicionantes económicas, tenha assumido como preocupação fundamental a racionalização do espaço. Nas Escolas Técnicas, o sector desportivo não tinha ainda direito à existência de um edifício independente, pelo que a Mocidade partilhava este espaço com o ginásio. A mocidade era repartida entre sexo masculino e feminino, cada um com sala de leitura, sala de jogos e depósito de material desportivo. Relativamente à concepção arquitectónica em função das características climáticas, as escolas construídas em Quelimane representam, no programa de Fernando Mesquita, o paradigma da perfeita coerência dos sistemas de promoção da protecção da radiação solar e da chuva e a potencialização ao máximo da movimentação do ar como combate aos malefícios da humidade: o rigor da orientação Este-Oeste nas fachadas de maior desenvolvimento é cumprido, protegendo ao máximo do Sol as fachadas de maior desenvolvimento. Complementarmente à implantação, os vãos das fachadas Norte – onde os raios incidem a maior parte do dia e verticalmente – assumem proporções reduzidas e encontram-se devidamente protegidos por dispositivos de sombreamento horizontal: as galerias de circulação coberta que acompanham rigorosamente os pavilhões a Norte, e as próprias coberturas, desempenham na perfeição a função de sombreamento, durante todo o ano. Nas fachadas Sul – onde os raios incidem horizontalmente e apenas no início e no fim de alguns dias do ano – os vãos adquirem maiores dimensões e estão devidamente protegidos por dispositivos de sombreamento verticais, em continuidade com a estrutura, não permitindo, nem nos dias mais quentes do ano, a entrada de qualquer radiação solar directa no interior das salas de aula. A ventilação cruzada, essencial à renovação do ar do interior das salas de aula, é garantida pela inexistência de obstáculos à sua livre circulação. Totalmente abertas entre fachadas opostas, com vãos em contacto directo com o exterior, mesmo uma brisa pouco significativa de 0.45 m/s permitirá renovar o volume de ar cinco vezes por minuto, expulsando os micróbios. Mas é também, mais uma vez, a correcta implantação da escola que garante a qualidade da ventilação natural: as fachadas onde se encontram os vãos de maior dimensão estão viradas a Sul, permitindo a entrada dos ventos predominantes, que na estação quente, vêm do Sul, em Quelimane. Esta é também a condição ideal para a protecção das chuvas, uma vez que os vãos de maior dimensão se encontram na fachada oposta à da galeria de circulação coberta, garantindo a circulação protegida dos utilizadores em dias de chuva. Tanto a ventilação como a iluminação natural são ainda beneficiadas com o recuso às janelas beta, um tipo de caixilharia constituído por um sistema de persianas de vidro orientáveis. Permitindo simultaneamente a orientação da luz natural e da direcção do ar para o nível dos utilizadores e do plano de trabalho, garante a ventilação natural permanente da sala de aula, mesmo sob a acção das chuvas. As salas foram concebidas para estar completa e permanentemente abertas a maior parte do tempo: as janelas beta, ao longo de grandes vãos, substituem o hermetismo do caixilho tradicional, permitindo a franca circulação do ar, essencial ao combate da humidade, não apenas para o conforto dos utilizadores, mas também para o impedimento da criação de patologias e a consequente destruição dos materiais. Como uma pequena membrana, este sistema retira às paredes a sua relevância, permitindo encerrar o espaço sem bloquear a entrada do ar. Assumindo a versatilidade de responder às diversas situações que possam surgir, desempenha um sistema integrado e conjugado dos diversos factores: iluminação, ventilação e visibilidade para o exterior. Zara Ferreira (Referência FCT: PTDC/AUR-AQI/103229/2008)
este este tirei do site do ultimo site que enviei...
optimo. MA
Igreja de Nossa Senhora do Livramento Quelimane, Zambézia, Moçambique Arquitetura religiosa Foi edificada a mando do governador e capitão-general Baltazar Pereira do Lago, em 1776. Interrompida a construção por sua morte, foi retomada e acabada em 1786, por iniciativa do governador António Manoel de Melo e Castro, conforme lápide no interior do templo. De matriz paroquial passou a Sé Catedral, em 1954, com a criação da diocese de Quelimane. A construção de nova catedral, finalizada em 1974, acarretou o abandono da “velha” Sé. Abandono que foi ao ponto de deixar desaparecer retábulos de talha indo-portuguesa e imagens setecentistas de madeira policroma. O edifício, retomando o código maneirista, não deixa de manifestar as reminiscências indo-portuguesas omnipresentes nas poucas expressões arquitetónicas setecentistas em Moçambique e até em Angola, o que explica que esta igreja tenha sido comparada à Ermida de Nossa Senhora da Nazaré, de Luanda (1664), e à de Nossa Senhora do Pópulo, em Benguela (1748). A indigência arquitetónica que seria a de Quelimane até finais do século XIX, terá dotado a Igreja de Nossa Senhora do Livramento com o estatuto do mais importante testemunho edificado da multissecular presença portuguesa no Vale do Zambeze. Com duas torres na frontaria, rematadas por cúpulas, e um frontão central curvilíneo e ornado, mostra uma pequena mas graciosa escala, estando de fachada virada ao mar. Lateralmente, inclui galerias cobertas térreas, ao modo das igrejas da Índia. José Manuel Fernandes, José Capela

Comunicado de Imprensa

Na sequencia do acidente fluvial no rio Chipaca, ocorrido no dia 11.02.17, Sabado em que uma lancha com mais de 20 passageiros naufragou, originando a morte confirmada de Cinco cidadaos e desaparecimento de mais de dez, o Conselho Municipal da Cidade de Quelimane (CMCQ), ouvida a Mesa da Assembleia Municipal, em Sessao Extraordinaria declarou Luto Municipal em todo territorio municipal a partir da meia noite de hoje, Segunda feira, dia 13.02.17 ate a meia noite de Quinta feira, dia 15.02.17, em solidariedade para com as vitimas do acidente. O Conselho deliberou pelo adiamento do Carnaval do Brilhante para os dias 18.08.17 a 27.08.17. De referir que para alem deste acidente, dois jovens perderam a vida por afogamento no Sabado dia 11.02.17, no Bairro Namuinho e foram ontem a enterrar. Face a estes acontecimentos o CMCQ solidariza-se e apresenta sentidos pesames as familias enlutadas. Paz as almas dos perecidos, Manuel de Araujo,

Sunday, February 12, 2017

Coisas e Loisas da Nossa Terra

'Elabo Edgi Djaani? Djeeewu, Ontonga baani? Diiyo!

Factos, Paginas e Figuras da Nossa Historia!

A partir de hoje, e sempre que possivel e oportuno, publicaremos biografias, factos, e episodios da nossa historia! Se tiver a biografia de alguem que considere que deva merecer a nossa atencao por favor nao hesite! Algumas das figuras serao enviadas a Comissao de Toponimia para atribuicao de seus nomes a Pracas, Ruas, pracetas da Cidade de Quelimane .Nao hesite! Partilhe e divulgue a nossa historia!

Envie o texto digital para alculete8@gmail.com, copiando a cmcqgp@gmail.com Se forem textos impressos, brochuras ou livros agradecemos que os envie para Manuel de Araujo, Presidente da Conselho Municipal da Cidade de Quelimane (CMCQ), CP 68, Quelimane. Um abraco, MA

Para lancar esta serie, que tambem sera publicada na pagina eletronica do Conselho Municipal da Cidade de Quelimane e no Boletim Municipal 'O Autarca dos Bons Sinais", vou publicar dois textos da lavra de Cirilo Viegas, que nos chegaram atraves da nossa amiga comum Edma Pinto! Obrigado Edma! Um abraco, MA

1-DUAS FIGURAS QUE HONRARAM QUELIMANE

Dr. Alfredo António DÚLIO RIBEIRO

Ainda jovem, conhecemos o Dr. Alfredo António Dúlio Ribeiro em Quelimane. Homem gentil, cortez e humano, cativava as pessoas pela sua lhaneza de trato e simpatia. Veio para a capital da Zambézia tomar posse de uma das maiores plantações de coqueiros da região – o «Chuabodembe», herdada de seu pai, Francisco António Dúlio Ribeiro, que se fixou em Quelimane em 1884, onde viveu longos anos, e realizou uma obra construtiva, limpando os matos, cuidando das palmeiras, plantando árvores de fruto. Os descendentes prosseguiram a obra, introduzindo gado, que forneceu leite e seus derivados e, naturalmente, carne à cidade.
Apesar da indisponibilidade de tempo, devido à sua dedicação à extensa propriedade, António Dúlio Ribeiro servia a comunidade, fazendo parte da Junta Provincial de Quelimane, da Caixa do Crédito Agrícola (presidente), do Liceu (professor) e dos Tribunais (Juiz), e ainda recebeu convites que declinou para desempenhar várias outras funções de destaque na vida social da vetusta Chuabo.
A sua conduta impressionava o meio. Educado, culto, disciplinado e correto, nada vaidoso nem egoísta, condoía-se com a miséria alheia, e as pessoas encontravam sempre nele refúgio e uma palavra de conforto a pontos de, aos mais necessitados, doar terrenos, prática que D. Filomena de Sá Flores, a esposa, continuara. Para o primeiro aeroporto construído em Quelimane, Dúlio Ribeiro ofereceu toda aquela área que serviu durante décadas os transportes aéreos.
Faleceu a 5 de março de 1953 em Lourenço Marques (actual Maputo) no Hospital Miguel Bombarda com 44 anos de idade.
A Câmara Municipal de Quelimane não devia esquecê-lo na atribuição do seu nome na toponímia da cidade.

CIRILO VIEGAS


2-Padre Constantino Saldanha

O padre Cirilo Vicente Constantino Saldanha, de Saligão, Goa, veio para Moçambique com uma ideia muito forte: transmitir os seus conhecimentos àqueles naturais da vila onde se estabeleceu – Quelimane. E encaminharam-no para as suas instalações que se situavam num antigo prédio a tempos ocupado pelos padres jesuítas, onde se integraria a Missão de N.ª Sr.ª do Livramento – padroeira da capital da Zambézia - fundada em 1936. Não perdendo tempo, o padre começou por estudar logo soluções para as grandes necessidades da juventude local, talentosa mas muito carente. Viu que ela, para prosseguir os estudos, tinha que se munir de muitos instrumentos básicos e de estar bem alimentados. Sem estas ferramentas, nada feito. Com o seu método e disciplina, solidário e fraterno, passaram a frequentar a Missão de Quelimane pouco mais ou menos 500 jovens, dentre os quais Alexandre Victor, Vasco de Oliveira, os irmãos Leal (Chico e Júlio), Octávio Frank, Francisco Ó da Silva, os irmãos Pico (Alfredo, João e Júlio), os irmãos Morais (Jorge e Carlos), Mário Augusto Viegas, Francisco Hugo Viegas, Silva Pereira (Maiô), Fernando Azevedo, João Virgílio Fernandes (Capé), Francisco de Mendonça Lopes, Eugénio Silva, Jorge Faria, Victor Soares, as irmãs Barroso (Armanda e Clotilde), Júlio Ribeiro Artur, Vasco Saial, etc., alguns internos. Para proteger as órfãs que muitos aventureiros abandonavam, o padre foi um dos percursores da fundação do Instituto de N.ª Sr.ª do Livramento.
Enquanto ia aplicando as suas ideias, começou por esbarrar com outras, retrógradas e incompetentes. Desenvolveram-se então desentendimentos com os seus superiores que lhe recomendavam não ensinar aos alunos mais que ler e escrever. Altos voos e novos horizontes poderiam incomodar as autoridades. Mas essa recomendação foi como que passá-la a um surdo. A primeira preocupação do padre, para além de ler e escrever, foi motivar os jovens a ocuparem os seus tempos livres com outras atividades. Sem dúvida, eles precisavam urgentemente de alguém que os orientasse a gerir o seu tempo e a construir o seu futuro e a desenvolver outras faculdades. Mas para isso, precisaria de uma base financeira. Os seus proventos, que já estavam a ser aplicados, e consumidos, não chegavam. Começou a conversar e a sensibilizar as Donas da baixa Zambézia, que residiam todas na vila (ou nos luanes, sede dos prazos). Influenciou a Dona Ana Pimenta, possuidora de grandes áreas urbanas de Quelimane - como quarteirões da então Av. Azevedo Coutinho, assim como a chamada temba do Moreira e as terras de Coalane. O padre conseguiu convencer a Dona Ana Pimenta a encaminhar uma parte da sua grande fortuna para os mais desfavorecidos. Ela acatou. E avançando ainda mais com os seus apoios, de duas camionetas internacionais que recebeu, das primeiras importadas em Moçambique, a ilustre senhora ofereceu uma à Missão de Quelimane. Acarinhado e encorajado, e desenvolvendo as suas atividades, o padre fundou na Missão de Coalane outro colégio onde cerca de 600 crianças estudavam, e como no de Quelimane, dispunham também de três refeições diárias. (Mais tarde, em 1967, o padre Daniel Stanchino, superior da Missão de Coalane, teceria rasgados elogios à “obra do grande missionário”.)
A Missão era quase uma universidade. O clérigo não perdia tempo com ninharias. E repetidas vezes afirmava que o futuro de Moçambique precisaria de valores pelo que deviam preparar-se. Daí, incluir antecipadamente para a época no seu programa a disciplina de inglês ao lado de pintura, ballet, desenho, música, arquitetura, dança, jornalismo. [O jornalismo começava a enraizar-se na Zambézia, devido a grandes figuras que se fixaram naquele distrito (agora província). O bichinho entrara na alma dos zambezianos. extra-Missão, mas do seu núcleo, um dos alunos – Vasco de Oliveira, falecido em Lisboa -, com mais alguns companheiros, dirige um jornal humorístico recheado de indirectas a algumas figuras locais.O missionário impulsionava igualmente os alunos para o teatro – muito em voga em Goa -, criando peças com eles.
Não desperdiçando a excelente, digamos assim, matéria-prima que dispunha, depois da reciclagem, alguns alunos foram mesmo aproveitados para ensinar aos outros os primeiros anos da primária. Tudo que fosse possível, fazia questão de ensinar aos seus pupilos. Ele mesmo ministrava lições de artes marciais trazidas das velhas escolas orientais onde era exímio nos tempos de estudante. Os seus visitantes também não escapavam. Pedia-lhes que transmitissem os seus conhecimentos aos jovens. Um dos episódios que se contam é que ele, dando guarida a um militar de alta patente que andava longe do seu exército (inglês), aproveitou logo essa presença para selecionar alguns dos alunos mais velhos para aprenderem a lidar com armas de fogo e treinarem-se ao tiro ao alvo. Resultou. Por outro lado, não se alienava da vida social da vila. Achava que a localidade precisava de mais vida. As esporádicas e distantes sessões do cinema ambulante e as tropelias de comediantes que visitavam o burgo não satisfaziam. Era tudo pago e, logo, não ao alcance da população. Que contributo poderiam dar os seus alunos à sua terra? Olhando-a, e para o coreto vazio junto à marginal, cogitou e reuniu todos os instrumentos musicais necessários, e, seleccionados os músicos com a prata da casa, criou uma banda de música que entretinha e fazia a alegria da população aos domingos (alargada mais tarde às quintas-feiras).
Sempre na vanguarda e informado em todos os assuntos que dissessem respeito ao desenvolvimento intelectual e físico dos jovens, toda a sua preocupação assentava nestes princípios, o que fez deste homem uma das figuras mais queridas de quantas passaram por Quelimane. Agrupava e treinava bastantes deles no futebol, que adorava. Formou craques como Silva Pereira (Maiô), Jorge Faria, Mendonça Lopes, Chico e Júlio Leal, Eugénio Caetano da Silva, “Conga”, entre muitos outros que integraram os clubes que entretanto se foram fundando.
A par de todas estas atividades, ele não descurava obviamente da assistência religiosa. Com a ajuda das irmãs católicas, ministravam-se lições de catequese. E duma pesquisa elaborada pela nova diocese, constatou-se que foi o padre que mais batizou na província da Zambézia. Só que poucos sabem que a sua perspetiva ia mais além. Desejava que mais tarde estes jovens ajudassem o desenvolvimento da sua terra, na época cheia de barreiras para a maioria que nascera ali. Ele sonhava que um dia a liberdade chegaria e que todos se uniriam num grande abraço para o progresso harmonioso do território e de todos quantos ali nasceram, sem descriminação. “Este é um país maravilhoso”, asseverava sempre.
Como expusemos atrás, este labor do sacerdote goês incomodava muita gente, não só os seus superiores. Ver o filho da terra progredir económica e socialmente não interessava aos colonialistas. Transferiram então o padre para Tete (Missão de Boroma) e daqui para o Chinde.
Entretanto, depois de percorrido este exaustivo itinerário, as saudades da família e da terra levam-no a embarcar em 1952 para Goa, conforme carta que escrevera do Chinde, em 22 de outubro desse ano, ao seu “maior amigo”, que o coadjuvava nas tarefas escolares e religiosas, entre outras, e nunca o esqueceu - Alexandre Victor, que residia em Quelimane, onde, conforme as suas palavras, era pai de “crianças tão bem educadas, tão simples, tão dedicadas e tão amigas entre si”. Nessa missiva, pensava não voltar mais. Mas regressou e foi colocado na Beira. Na sua 2.ª viagem a Goa, embarcou no navio Karanja e desembarcou no dia 9 de Janeiro de 1960 em Karachi; no dia 1 de Fevereiro do mesmo ano, entrou em Goa, no navio Zambézia, no porto de Mormugão. No regresso, embarcou em Bombaim a 7 de Abril de 1962 e aportou a Moçambique a 2 de Maio de 1962.
Após cumprir a sua missão na Beira, onde foi capelão do Hospital do Macúti, já reformado, fez questão de querer ficar em Quelimane, e na casa de Alexandre Victor, que nunca o esqueceu. Conforme sempre declarou, o seu encontro com a terra dos prazos e das Donas e das suas gentes foi de “amor à primeira vista”.
Chamado Alexandre Victor à Capital de Manicapara o acompanhar, já na vetista Chuabo, como s começava a tornar
difícil a sua deslocação à igreja da cidade, devido à sua avançada idade, o padre pediu autorização ao bispo, D. Francisco Nunes Teixeira, para celebrar a missa em casa. Assim, no seu quarto, no bairro Torrone, na casa onde morava Alexandre Victor, com a sua mulher, Maria Ana Victor, os seus sete filhos e netos, adaptou-se um Altar, e todos os dias, às 6 horas da manhã, era celebrada a Missa. Foi aqui, neste quarto, que o padre Cirilo Vicente Constantino Saldanha faleceu, em 12 de novembro de 1969, com 78 anos de idade.
Embora na altura criança, soubemos dele. Os novos protagonistas da cena quelimanense (os seus antigos alunos) não o esqueceram e não se cansavam de exaltar a sua ação. Volvidos muitos anos, já adolescente, conhecemo-lo pessoalmente. Encontrámo-lo, transferido de Tete, no Chinde, onde, na sua residência, tinha uma sala de aulas, e, na parte de tarde, em terreno adjacente à igreja, arbitrava duas equipas de jovens de futebol, internos da sua Missão.
Esta a nossa homenagem. A nossa modesta homenagem a um grande Senhor, que nasceu em Saligão, Bardez, Goa. Deixou plantadas muitas viçosas árvores e um escol que honrou o meio onde viveu e trabalhou.
Outro nome que não devia ser esquecido e devia figurar na toponímia da cidade.

CIRILO VIEGAS